29 abril 2011

Amor, Amore, Love, Amour, Liebe.

"O Amor em Portugal é um sopro ou um segredo, mas nunca é um grito. Os portugueses escondem a palavra "Amor" debaixo da língua ou atrás dos dentes como se tivessem vergonha de a soltar e, não vá ela morder alguém, quando a deixam vir cá fora espreitar amordaçam-na com o acento circunflexo (ô) que está lá mesmo sem estar. 

Já os ingleses dizem "Love" como quem vai beber uma Pint a um pub, o que torna a palavra um tanto ou quanto banal. Aplicam o "Love" tanto a uma pessoa como a um objecto qualquer. Se uma inglesa me disser "I Love you" alguma vez na vida, ficarei sempre na dúvida se ela me ama ou se me quer comprar. A palavra "Love" não se esconde como a palavra "Amor", mas circula de boca em boca como um bêbado solitário o faz nas ruas de Londres: sem dar cavaco a ninguém.


É por isso que gosto da Itália, onde "Amore" é tão grande que é difícil escondê-la onde quer que seja, quanto mais num canto da boca ou atrás dos dentes. O "Amore" é aberto e confirma-se sempre com o "Io te voglio tanto bene" para que não restem dúvidas e para que a coisa venha com garra.

A garra, precisamente, é o que falta aos franceses. O "Amour" nunca vem só, é servido numa taça com champanhe, flores e caviar como se só pudéssemos ter o seu usufruto se lavássemos primeiro as mãos e nos vestíssemos apropriadamente. Exactamente o contrário dos alemães, cujo "Liebe" parece ter tesão para pouco mais de cinco minutos.

A forma como se diz "Amor" quer dizer tudo sobre um povo, e se é verdade que nós não somos capazes de gritar como os italianos, não nos queremos vulgarizar como os ingleses, não somos de floreados como os franceses nem martelamos como os alemães, também é verdade que segredamos como ninguém.

O nosso "Amor" é assim, um segredo que vagueia entre a louca nudez de um dia de Verão e a tristeza momentânea de um dia de chuva. Somos assim. Eu sou assim. De facto tenho orgulho nisso, num Amor que é  tão saboroso quanto melancólico e que só se dá quando os lábios se aproximam do ouvido e dizem: "Eu Amo-te!"."


Porque queria ter sido eu a escrever, podia ter sido eu a escrever, já que eu sinto as coisas assim, tal e qual. 

Voltei (mas não queria, confesso.)


Para quem achava "olha aquela acabou com o blog!", desenganem-se, voltei. A pausa foi devida a umas curtas férias, muito, muito merecidas.

Londres foi absolutamente espectacular, fui feliz como já não era há muito tempo. Fui relaxada, andei sem relógio, apesar de ver o big ben com frequência. Comi quando tinha fome, dormi quando tinha sono. Sem horários e sem preocupações. Soube-me pela vida.

Saí com a promessa de voltar, de tornar a ser feliz por aquelas terras. Custou-me voltar, voltar à rotina, voltar aos problemas de sempre, ao trabalho, as ceninhas que me irritam, voltar ao costume. Espantou-me não estar a morrer de saudades de ninguém, nem dos meus meninos, os meus gatos mais que tudo. Só quando vi a carinha deles é que dei conta das saudades que tinha. Mas lá não deu para sentir saudades de ninguém, o tempo passou a correr.

Foi tudo mesmo muito fantástico, começando pela casa que era um sonho, eu vivia ali sem qualquer problema, esquecendo o facto que a renda deve rondar as 3000 mil libras, isto eu a ser muito muito simpática a mandar valores para baixo. Num bairro lindo, e típico, com ruas magnificas e sem um único papel no chão, e sem caixotes, tinha que meter o lixo na mala, e esperar até ver um café ou afim que desse para meter o lixo à socapa.

Só chuviscou uma única vez, quando, quando, perguntam vocês, e eu digo, precisamente quando andava eu pelo london eye, ou seja as minhas fotos daquele magnífico momento estão a atirar para o ranhosas, isto porque a água escorria pelos vidros, ou acrílicos, ou whatever e pronto. Mas deixa, ficou na minha memória de maneira magnífica.

Fui tão feliz, já disse? Não? Pois mas fui. E ficava lá muito mais tempo. Fui feliz mesmo inchada com dores de não conseguir pensar de tanto que palmilhei. Fui feliz quando não aguentei mais estar de pé depois horas no museu de história natural e fui até à relva e pimpas, saquei do calçado e dormir ali ainda uns bons 40 minutos, pezinhos ao leu, óculos de sol na cara, como uma qualquer londrina. Que dizem que amigo não empata amigo, mas empata, e eu já não aguentava mais plantas e asas de passarinhos e cenas, eu queria ver mas já não conseguia estar de pé.

Em Londres a malta não pode ver/sentir sol. É vê-los (e vê-las) despidas porque andam raios de sol a despontar. Tudo bem andei de t-shirt quase todos os dias, mas nunca vi tanta perna (gira!) de fora, tipo concentração de gajas com calor no Algarve mas numa cidade que se estiveres à sombra até é muito frescote, talvez para mim, que sou de longe, super fraquinha e tenho sempre frio. Qualquer pedaço de relva serve para passar um dia com sol, a beber, comer, conversar, ou em pic-nic de família como se viam nos parques maiores, tipo hyde park, os londrinos, ou os que tinham cara disso, optavam por ir para a relva dos museus, como o tate e tinha talvez tanta gente no interior como fora dele, na relva, alguns até de biquíni.

Nunca vi uma mistura de cheiros, cores e gente tão grande. Havia muito turista na cidade, é certo, mas é uma cidade mesmo assim, muito ecléctica.

Aquilo do casório já metia nojo, para todo o lado era malta a falar daquilo, até a bela da Time Out Londres era sobre eles. Ouçam, já não havia pachorra. Os pub's e as tascas mais gordurentas com decoração como se estivesse a acontecer algo como o Euro 2004, lembram-se nao?

Ainda houve tempo para rever uma amiga que foi feita maluca para lá! E largou tudo por por amor, trabalho, casa (linda, linda, própria num dos bairros mais lindos de lisboa), familia, amigos. E lá foi ela atrás do seu inglês. Para ti que lês o meu blog,  muita sorte, em tudo, apesar de eu achar tudo meio (vá, totalmente) doido, sê muito feliz!

Queixa: aquela gente janta com as galinhas! Deve ser para terem mais tempo para se enfrascarem em pints nos pub's. Agora que penso, acho que é por isso. Curioso.

Há muita história para contar. Muita muita. Desde as histórias do português/inglês misturado, e são engraçadas, garanto. Muita coisa que aconteceu. E vou contando, claro. As fotos virão a seu tempo. Mas o mais importante disto tudo é que fui muito muito feliz. Já entenderam isso, não?

A bela da foto foi tirada pela minha companheira, que muito aguentou por causa dos meus pés de princesa, na volta, de Londres para Lisboa, linda não?

20 abril 2011

ex issues

Gostava de dizer muitas coisas, e falar disto e do outro. Mas não, só quero dizer o seguinte, há pessoas que por mais que tentem, mais dia, menos dia, voltam para os ex's. Curioso.

Realmente quem sou eu ao lado de uma pessoa com quem partilhaste puns? Ninguém.

3... 2... 1...

Estou oficialmente dedicada a uma dieta. Objectivo, ver se consigo perder, na loucura, tipo 300/350 gramas, para ficar com melhor aspecto nas minhas férias paradisíacas. Vamos a ver.

loves' old fashioned



Cee lo Green diz que "true love doesn't go out of style"
Ceelo diz eu acredito.

2011 será "O" ano

Pois se há coisinha que anda nas minhas resoluções deste ano eram as viagens. Eu quero, e mais que isso, eu mereço. Sim, quero fazer viagens culturais e parecer uma chinesa, sempre de maquina na mão a disparar flashes. Também serei uma lula exposta ao sol, porque preciso (mesmo!) de descansar e beber muitos mojitos. Não podem ser só viagens de ténis no pé, há que dar uso à bela da havaiana.

           Certezas de 2011





           Quase certo





Ahhhh! Não morram de inveja. Isso faz-vos muito mal. 

Qualquer contribuição para a felicidade da Miss é bem-vinda. É mostrar interesse em ver-me feliz e eu mando o meu nib. Pode ser?

work

Ser a mais nova num departamento com cerca de 40 pessoas dá-me alguns privilégios. Como ter um colega que me empurra, regularmente, para o filho.

Já que não dá para ele, alguém que me aproveite.

London calling, e desta vez chama mesmo.

Existe alguém que conta comigo para a organização de umas férias... coitada, não sabe com quem se meteu. A 2 dias da viagem, quando me perguntam "e o que é que vão ver?" a minha resposta é sempre a mesma, "não sei.". Sei que vais descobrir por aqui, que afinal não tenho as coisas assim tão controladas. Lamento profundamente.

Será uma viagem ao género go with the flow.

19 abril 2011

Filme de terror



Eu vivo um filme de terror permanente. A minha vida roça, claramente, o anormal. 

Recebo eu uma mensagem no meu facebook. O primeiro pensamento vai para sempre para o modo esperança, sim esse mesmo. Dois segundos depois já estou convencida que é uma mensagem a pedir ajuda para qualquer merda, aqui um like para eu ganhar uma coisa qualquer que não me faz falta nenhuma, mas já que é grátis...  Mas não, desta vez não. Era um tal gajo que vive no anonimato com o nome de Escravo Submisso

WTF? (Sim, foi o que pensei)
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(com o belo titulo de) Dominação feminina

Olá Miss Battle*! Imagina que um amigo teu tenha um sonho de ser completamente submisso às vontades e humilhações de uma mulher que, este, considere perfeita? Pois é, isto pode ser difícil de compreender e aceitar... mas é o que se passa comigo! Não sei se o facto de achar a mulher bonita e inteligente uma deusa, me faz sentir realizado, se me curvar perante ela. E assim, todas as vontades dela, se forem no sentido contrário das minhas, por muito que custe imaginar, fazem-me sentir bem, porque ela deve estar num pedestal! Enfim, não sei explicar. Sei que desde pequeno, já sonhava em ser raptado por uma mulher assim, e que ela me obrigasse a tornar-me seu escravo. Depois apercebia-me que não jogava com o baralho todo. Lol! Mas vá, não quero que fiques assustada, nem aches que sou algum psico, ou algo do género. Sou alguém que tem uma maneira de pensar diferente da maioria da sociedade e que, por isso, se vê obrigado a esconder, juntamente com uma minoria, pois esta forma de ser jamais seria aceite...

O que me vai dando esperança de gostar de ser aquilo que sou, é que vou encontrando relatos na internet, videos, etc, de pessoas como eu e vejo que esta "doença" não é mais senão um desvio sexual, do grande padrão. Encontro vídeos de homens que gostam de ser pisados, humilhados, agredidos, cuspidos e até que essas mulheres os tratem como suas sanitas humanas. E por incrível que pareça, também há mulheres que gostam de ser essas mulheres sádicas e dominadoras.

Pois bem, no entanto escondo-me de tal maneira que sinto que nunca vou encontrar alguém que preencha esses requisitos.

O que te peço é que caso tenhas dentro de ti, um pouco desse gosto por se sentir desumanamente venerada e um pouco desse sadismo, que não ignores esta mensagem. Juro que procurava manter todo o sigilo e mais algum e falar-te-ia mais de mim. Teria todo o gosto em que fosses a minha rainha. 

O meu objectivo não é ofender-te e desde já, se o fiz peço as minhas desculpas. Se a tua resposta for um absoluto NÃO, peço que pelo menos respondas e não te preocupes que não te volto a abordar com tal assunto, nem nunca existirá razão para ficares com medo de mim... :)

Um beijinho =)
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Sobre o que ele me disse, há pouco a dizer, apenas acho graça querer-me explicar o que é o masoquismo, não vá eu não saber. Quem é essa tal pessoa que me quer tratar como uma "rainha" não sei, nem nunca vou saber. Na realidade não me interessa. 

Acho que este rapaz "tímido" deve também mandar muitas mensagens iguaizinhas a esta, mudando apenas o nome, o que está escrito no meu Facebook pessoal, para outros nomes de raparigas. 


Sanita humana... este gajo não me conhece, é lógico, eu, a menina que não arrota à frente de pessoas, ia-me por aí em grandes disparates a mijar e cagar num gajo. Por favor!

Ele há coisas que superam a minha imaginação. Haja criatividade para me surpreenderem todos os dias. O que virá amanhã, pergunto-me.


*Quero só referir que ele não dizia Miss Battle, mas sim o meu nome próprio.

Pexoas

Há malta por aí que vive numa verdadeira maluqueira com isso de meterem X em lugares descabidos, pessoas que escrevem em código, e que me obrigam a um exercício mental de descodificação, para português, do que dizem.


Quem sou eu? Eu não sou ninguém, eu sou aquela que usa acentos errados, que mete "de" em sitios que não devia, e que não atina com a palavra esgar, usando-a sempre como se fosse um verbo. Epá, perdoem-me não ser espectacular no português e na sua semântica. Mas isso não quer dizer que goste de ler pessoas a escrevem com X. Irrita-me absurdos.


Hoje, recebi um comentário de uma pessoa que em tempos fez sentido na minha vida, gosto dela, é uma querida, mas a maneira dela escrever afastou-nos irremediavelmente. Então perguntava ela numa foto minha no facebook,  "ixo foi ondii???"


Perguntei-me a mim mesma que iria eu responder com aquele ataque de irritação súbito que me deu. Talvez devesse ter respondido:


 "ixto foii numa altura em ke pixoas como nóx nox dávamox. Outrax alturax. Axim xendo, ñ comentes maix nada. Eu ñ kero falar maix contigo enkanto falarex axim. Ñ poxo. Ñ coxigo. Nem prexixo. Paxo bem sem ti. É até 1 alívio. Dexulpa lá, mas é. Eu ñ conxigo ter uma relaxão cm uma pexoa que fala axim. É impóxivel. Ñ me fax bem. Fico com a cabexa confuxa. Akaba lá com ixo cm urgenxia ou a noxa relaxao fika por aki. Beijokinhas. Fika bem."


Mas não. Não disse nada, não respondi. Bambi.

18 abril 2011

IRS

Sou a pessoa mais clássica das clássicas. Sei que ainda não fiz o IRS, sei até que não sei preencher aquilo, basicamente porque nunca me dei ao trabalho, e sei que tenho que reunir as papeladas e procurar os recibos, que andam espalhados, e que tenho que fazer impreterivelmente até ao fim do mês. Mas ainda não fiz nada. Nem tenho vontade. É tão chato. No fim do mês lá vem o stress. É o do costume.

15 abril 2011

A livreira anarquista

Não sei se me poderia rir mais. Pois, se calhar não. :D

Riam-se como eu, aqui.

a pedido

A pedido de muitas famílias, não, afinal foi só a pedido da duSi, coloquei a hora em que escrevo. Ela diz que lhe faz confusão não saber a que horas eu coloco aqui as coisas, eu não quero que nada a preocupe, porque ela é daquelas fofinhas assíduas aqui do espaço. Ouviste? Só para ti, está feito.

14 abril 2011

Sabem?

Sabem aquela sensação frustrante que é ir frequentemente, e frequentemente é tipo todas as horas, as vezes até mais, basta estarmos na internet, ver aquela wall do facebook, aquela sabem? E andar lá a ver se há novidades. E se há lê-se tudinho. Escarafuncha-se... Vêem-se as fotos com regularidade, não vá haver coments novos... Pronto. É isso. Sabem qual é a sensação?

Segredo da longevidade do casal

Hoje cheguei mais cedo. Fui mais cedo do que o combinado, tive cerca de 30 minutos à espera das minhas companhias de jantar. Entretida a ler o livro que a minha companheira de trip comprou, para saber onde ir em Londres... Enfim, mas não podia deixar de reparar, ainda para mais estando sozinha, no casal em frente à minha mesa. Um casal na casa dos 50 e muitos, inicio dos 60.

Trinta minutos, talvez até mais, e eles não falavam. Não havia conversas. Não houve dialogo. O vinho na mesa, cada um bebia e comia os seus pratos. Quando acabaram, pagaram e foram embora. Foram ali só para jantar, notava-se claramente. Não houve um riso nem uma gargalhada, mas também não houve discussão.

Talvez a melhor maneira de conservar um casamento seja mesmo essa. Quanto menos conversa, melhor.

Talvez o segredo da longevidade dos casais seja mesmo esse , o silêncio.

13 abril 2011

psiu

Vou ali só organizar a minha vida e já volto.

Basket e Cabeleira


Já não se pode ouvir falar deste "casal". Esta capa é do que anda para aí. Não entendo que raio de homem é que quer ver uma gaja nua, ou semi-nua, com um cabeludo de nome cabeleira, que diz que tem uma relação com ela. Enfim é casalzinho estranho. É.

Ela dá um ar reles e vulgar. Ele tem ar que se injecta com frequência, e é capaz. Já para não falar na carinha que ele têm de corno, cheira-me que é daqueles tipos que gosta de ver a mulher dele a ser comida e mexida por outros, como quem diz "epá já visto isto que eu tenho? É boa não é? Vá mostra-lhe lá como é que fazes sexo oral para ele ver a sorte que eu tenho.", parece-me que ele aplaude e pisca os olhos para os tipos que estão ao lado dele cada vez que ela se despe nessas distintas casas, pisca o olho com aquele ar de quem diz "é boa não é? Durmo com ela à noite! Já viram a minha sorte?!"


Ele parece feliz, mas não me parece que este casal venda grande coisa, ou daí talvez esteja errada, mas meterem nas páginas centrais o gajo a olhar de frente, com ar apanhado, é capaz de não ser grande turn on... Bem ele há gente para tudo. Há quem se excite com tipas a rebentarem balões com o rabo ou a andarem em cima deles com saltos.

Ela é tolinha. Faz o género tonto de loira burra. E foi a rainha da Festival Erótico Medieval (gostava de saber quem teve esta feliz ideia, deve ter sido um senhor que adora misturar mulheres com cavalos), é ouvi-la e vão entender o que digo.

É ver o video senhores, é ver o video do festival.

amar

Amar é coisinha para doer. Para doer muito.

...

Diz que me vai doer horrores quando tu te apaixonares. Diz que me vai custar absurdos. Mas sei que quando isso acontecer vais entender que é normal o que acontece. Podes ter amigos e ter uma relação saudável. Tu é que viveste sempre para os amigos... Ele há gente que tenta combinar tudo, e até é bem sucedida. Faz um esforço, é possível.

12 abril 2011

falava-se do ex


Não há ninguém no mundo com um ex como eu. Não há. Ainda hoje falava dele e pensava para comigo a sorte que tenho em ainda o ter na minha vida. É bonito ver como uma pessoa com quem dividi mais do que palavras consegue estar na minha vida de forma tão serena.

Não é caso único na minha vida, mas este meu ex é o meu ex. Foi e será das pessoas mais importantes da minha vida. Foi uma mão cheia de anos, de paixão, amizade, sorrisos, amor e batalhas. Cinco anos de história em comum.

Gosto de pensar que fiz bem em lutar por ele. Ele que achava que eu era boa para dar umas voltas, e pouco mais. Para ele eu era muito nova, era pequena. Para não falar que eu ainda nem tinha começado a tirar o meu curso e ele já tinha vida independente. Extractos sociais diferentes. Alem de que ele não namorava, deixou logo bem claro ao início que o que tínhamos era uma coisa descontraída (parece-me que ouvi esta história mais do que uma vez), sem compromissos de maior. Estávamos juntos porque gostávamos de estar juntos. Ponto.

Assim foi até que, inevitavelmente, nos apaixonamos. É bom frisar que em timings diferentes... Mas esta batalha eu venci. E nasceu uma história bonita que só ela.

Um dia, uma tipa loira, lá o confundiu e fui deixada, isto muito resumidinho, que isso agora não interessa nada. Fui deixada. Não contava e sofri e renhau-nhau-pardais-ao-ninho.

Achei que devido à dor nunca iria olhar para ele com outros olhos. Mas estava enganadinha. As vezes até acho que sou cruel. Simplesmente porque ele já não me dá sentimento nenhum sem ser carinho. Aqui há tempos até dizia que não conseguia entender que uma pessoa com quem fui tão feliz agora só me podia dar sono. Assim, lido à pressa soa mal. Eu sei. Mas facto é que eu sempre achei que ele me ia dar a volta a cabeça. E que jamais iria recusar um convite dele, e que não ia aguentar estar com ele só como amiga. Mas estava tão enganadinha. Ali já não se passa nada. Acabou mesmo (pelo menos para mim).

Consegue apenas tirar-me do sério quando diz que sou parva com a minha situação actual que já não é actual mas que ainda existe, pelo menos para mim. 

E é assim, um dia a pessoa apaixona-se.


Ele há gente sem jeitinho

Ele há gente sem jeitinho, sem coordenação motora. Ele há gente como eu. Gente tola, gente totó. Gente que não aprendeu a andar de bicicleta.

O pior é quando vem uma alminha e diz que é fácil. Pior, sinto-me pior. Então se é assim tão fácil porque raio nunca aprendi? Já vários se ofereceram, mas depois é isto e o outro e nunca aconteceu. Agora surgiu novamente em conversa, e pumbas, toma lá outra vez com o "não sabes?! (gargalhadas!) Como não? É fácil!", ao que eu respondo sempre "Pois, diz que sim, mas eu não sei..." ao que junto aquela minha cara de cachorrinho abandonado, que dá mais credibilidade à tristeza que sinto por tal facto. Ouvi novamente, "Eu ensino-te! Levo-te as joelheiras e tudo.". Eu sou como o outro (não sei quem), só vendo para crer.

Será que é desta?

11 abril 2011

amigo para sempre

Em tempos era das primeiras a saber de tudo, a que recebia chamadas a toda a hora, a que recebia SMS a todo o instante com as coisas mais disparatadas possíveis Eu gostava, sentia-me especial. Recebia chamadas para o entreter no comboio, para se sentir menos sozinho no meio do mar de gente que faz a linha de Sintra. Acompanhava-o para todo o lado, mesmo não indo. Era cafés, restaurantes e praias. Sentia-me integrada, mesmo não estando presente.

As coisas mudaram, deixei de receber no chat aquela frase habitual até então, "vou sair, mas falamos por mensagem.". Com o tempo senti que fazia parte da vida dele cada vez menos... E que, por estranho que parecesse, ele fazia cada vez mais parte da minha. A balança desequilibrou-se. Acontece. Não o julgo, foi comigo, foi com ele, foi connosco.

Não deixa de ser triste saber que essa pessoa que em tempos dizia o que comia numa marisqueira, que estava no café, que ia na ponte a caminho da praia, ou ainda que acabava de saber que um amigo ia ser pai, nos deixa de contar coisas importantes no spot. Problemas. É triste saber que já não contamos como antes. É difícil ver que já não estamos das primeiras pessoas, daquelas com quem queremos falar quando precisamos de desabafar ou ouvir conselhos.

Aquilo que sinto não é egoísta, é saber que me afastei de uma pessoa, que nos afastamos, e saber que podia ser um ombro amigo, podia ser confidente e conselheira. Saber que podia ver em mim alguém para encostar a cabeça, como ele já foi. E que agora, simplesmente, deixei de contar.

Isto é o presente. O que o futuro nos trará eu não sei, mas sei que existe carinho suficiente para se reestabelecer uma bela amizade.

(espero que tudo se resolva pelo melhor, xoxoxo)

08 abril 2011

então e quando...

Então e quando se vai ao face (aquele que é book) e estamos na página inicial, e se vê uma foto de uma amiga. Abrimos com aquele sentimento que, pelo menos em mim, é inato, a curiosidade, todos gostamos de ver o que vai na vida dos outros e tal e coiso. Olha-se e vem aquela sensação... conheço este. De onde, de onde... epá não me lembro. Até que... oi?! hãn? Olha... E damos conta que é um ex-namorado, daqueles que se beijou mas que não ficou nada, nem uma amizade, nem porra nenhuma. Daqueles que não foram inesquecíveis, que quase nem se fizeram lembrar nas minhas lembranças mais profundas. Ele há gente que não marca. Realmente.

Gosto de me lembrar e achar que afinal também já tive a minha parte sacana na vida. Este, coitado, soube que eu não queria mais nada por sms. Acontece. É curioso.

Ausência de percepção ocular, insensibiliza órgão cardial. Que é como quem diz, olhos que não vêem, coração que não sente.

07 abril 2011

Posso dizer asneiras?



Epááá posso? A vida é fodida. Quero mesmo é gritar foda-se. Assim com força, F O D A - S E!


Eu digo sempre que acredito na lei de Murphy, e que sim as merdas aparecem todas juntas, e sim, que se houver mais treta para ajudar à festa ela vêm. Acredito. E acabo sempre por ter razão. 


Já há uns tempos que ando com problemas diversos de saúde, fui a várias especialidades e saí com ainda mais merdinhas que desconhecia e tão pouco sentia. Tudo bem, a pessoa toma comprimidos e mete cremes e faz analises e faz tudo o que for preciso. A coisa que mais me preocupava acabou por me levar a uma consulta de Gastroenterologia. Tive que marcar, então, um exame. Uma colonoscopia. Sim, ainda nem fiz 1/4 de século e já tou prontinha para o lar. Marquei, esperei que viesse a resposta do seguro a autorizar... E fiquei com a pulguinha atrás da orelha, porque ela tinha falado assim de sumiço em anestesia, mas eu nem liguei. 


Recebi a chamada, uma tipa armada em muito profissional diz-me que o seguro aprovou. Pensei, epá ainda bem, ufa, mas lembrei-me de perguntar valores. Quem controla a sua carteira sabe como é. Há que saber o que se vai gastar. E começa a debitar-me:
Ora portanto, 93 e qualquer coisa para a colonoscopia, pensei, ok podia ser pior. Achei que acabava por ali, mas não. E mais (mais????) 140 para a anestesia, mais 150 para o internamento (internamento???) e mais o valor dos farmacos e da medicação, mas esses podem variar e não lhe vou dar.


Eu bambi em choque a fazer contas por alto nem sequer pensei porque raio tinha eu que ficar internada... só via as minhas ricas notinhas que tanto tempo demoro a amealhar a pisgarem-se da minha carteira para a mão daquela gente. Para no fim do exame me dizerem, "Miss, está tudo bem consigo. Não tem problema algum, têm um intestino que é um espectáculo!", e eu respondo "Está tudo bem comigo é o cara***! Que tive que largar mais de 400 euros!" 


Opá! Tou mesmo fodid*.


Como podem constatar, ao longo do discurso introduzi pequenos e mimosos ***, é que sou bambi e a raiva e vontade de dizer asneiras vai-me passando. Mas estou triste. Muito muito triste. Vá venham mimos à Miss, que ela bem precisa.

?

O que é que se faz quando a vida tem o brilho, 
o som e o entusiasmo de um monótono filme mudo? 

frágil

06 abril 2011

tenho um okupa



O meu coração tem um okupa. 

Para quem não sabe o que é, é um tipo que entra e ocupa um espaço abandonado ou desabitado. Não pede licença,  é entrar e andar. Instala-se, faz dali a sua casa, sem nunca pedir permissão ao proprietário. No caso, eu. Depois é um tá quieto para o pôr dali a mexer. Não basta meia dúzia de "vai-te embora e põe-te a andar". Não dá. Não funciona... É avisa-lo que já chegou a hora de ir procurar outro lugar, e esperar que ele meta a sua mochilinha às costas, e que deixe o lugar de novo desabitado, abandonado. Acrescento eu que talvez um pouco danificado, mais uns pregos, mais uns lixos, mais umas coisas que não deviam. Mas isso já sou só eu a falar.

Conversa

Irmão: Pois eu nem sabia que ele estava doente. Ninguém me disse.
Irmã: Tinha cancro.
Irmão: Mas era cancro benigno?
Irmã: ??? Cancro benigno? Isso não existe. É sempre maligno.
Cancro é cancro. Estás a confundir com tumores.
Irmão: Ahh! Não sabia.
Irmã: Pois.

05 abril 2011

sentido de oportunidade

ele: Olha vais sair hoje?
eu: Vou. Vou a um velório.
ele: epá... ahh... lamento.
eu: Também eu.

04 abril 2011

Perder-te (parte 325)

Perder-te é sem dúvida das coisas mais tristes de toda a minha vida. Ninguém devia perder quem ama. Nem por este nem por outro motivo. Nunca.

Sabia que vinha o dia em que me dirias um adeus destes. Mas quem ama não prepara. Fecha os olhos, dois, três dias, espera que o sentimento passe, mas egoísta, acha sempre que quem amamos nunca vai.  Mas vai.

Tu um dia lá abriste os olhos e resolveste ir. Nem olhaste para trás. E eu fiquei, tal e qual um gato das botas, triste a ver-te partir. Resta-me apenas aceitar e deixar-te ir. Ficar quietinha uns minutos, quem sabe podes voltar atrás, e se voltares tens de me ver no mesmo sítio.

Lembro-me de sentir esta dor outras vezes. Mas cada vez que volta, volta com mais força. Traz com ela o passado e o presente. Faz-nos pensar porque raio têm de nos acontecer outra vez. Porquê a nós. Porquê outra vez eu. Diz que é normal. Eu diria que era normal se fosse uma minoria da nossa vida, se fossem sentimentos esporádicos, que são rompidos por mais amor e amizade. Mas não. Comigo não.

A minha tendência é isolar-me. Digam-me cá quem é que quer ouvir, "ah e tal ele não gosta de ti. Esquece-o." ou o famoso "ele não te merecia, mereces melhor.". É bonito, sim senhor, mas quem é que vê uma pessoa a sofrer da dor maior que existe que é a perda, e perder alguém que se ama é absolutamente devastador, e se saí com tal pérola? Ele não gosta de ti. Ahh, isso é capaz de me fazer sentir melhor? Não. Ou a do mereces melhor quando foi ele que se pôs a mexer? Também não funciona. A mim não me parece.

O tempo. O tempo diz que cura, e eu acredito. O tempo não faz esquecer, acalma o que sentimos e deixa-nos respirar melhor, ver as cores das coisas e permite-nos sonhar outra vez. O tempo permite-nos viver finalmente, novamente. O tempo são dias, semanas, meses ou anos. Depende da dor, do abandono e da pessoa. Mas o tempo passa tão devagar quando se sofre. Sempre que queremos que os minutos passem as horas andem, ele teima em ficar preso naquele dia.

Perder-te é sentir vazio. É não saber o que vêm aí. É ter medo do futuro e dor no presente. É sentir saudade pelo que passou. É sentir-me perdida. É sentir-me como que falhada mais uma vez. É saber que não mais vou sentir a tua boca e a tua pele. Nunca mais irei sentir o teu cheiro e o toque no teu corpo. É saber que a tua mão não me vai descobrir novamente. É ter saudades. É ter muitas saudades.

Perder-te faz-me pensar que a última vez devia ter sido inesquecível, que apesar do amor, tenho medo de já te perder as feições, o som da tua voz. O lugar das pintas. A cor dos olhos. Não mais me lembrar do cheiro. É perder-te por inteiro.

Perder-te é perder-me. É sentir que contigo era melhor. É saber que o meu sorriso contigo era verdadeiro. Que tudo em mim era genuíno. É ter certezas do que sinto. É saber que te amei.

Perdi-te e perdi.

8

É sabido por quem me conhece que o natal é coisinha sem interesse para mim. Gosto de dar prendas e de receber. Sim, gosto. Gosto de ver a cara das pessoas com aquele ar "inapá, era mesmo isto, pá! Lembraste-te!", ao jeito "ah e tal és espectacular!".

Mas o jantar, o bacalhau, os doces, as músicas (4 instrumentais sempre em loop), acrescentando a seca que é ser a mais nova com o meu irmão que tem menos 3 anos que eu todos os natais. Eu não gosto do natal, dizia eu todos os anos. E ainda digo. Mas hoje sinto saudades do natal que tinha, do tal natal que eu nunca gostei. Porque tal como eu e o meu irmão somos os mais novos naquela mesa de 9, os antigos vão envelhecendo.

Hoje morreu o nosso pai natal de muitos, muitos anos. Pai natal que já não lia o "de" e o "para" de cada prenda, já tinha um pequeno ajudante de pai natal, o meu irmão, o mais novo apesar dos seus 22 anos. Pessoa de grande estima. A idade e as doenças não perdoam, e há muito que se sabia que mais dia menos dia íamos ficar sem ele.

É difícil, apesar de tudo era um natal pequeno de apenas 9, que agora passará a ser de 8. Pelo menos assim espero. Talvez este ano, pela primeira vez veja o natal de outra forma, talvez veja que aquela união familiar é cada vez mais frágil e quiçá aprecie pela primeira vez, em pleno, o meu natal.

Lei de Murphy

 "Se algo pode dar errado, dará errado da pior maneira, no pior momento 
e de modo a causar o maior estrago possível"


Sempre acreditei na lei de Murphy, sabe-se lá porque raio não acreditei noutras coisas leves com o mesmo afinco. Aparentemente, talvez pela força que fiz em acreditar nisso, as coisas estão mesmo a dar errado, e sempre que uma dá errado vem outra só naquela, toma lá, vai almoçar. A morte ronda, e a minha dor e a dos outros anda sempre a pairar. É a lei de Murphy no seu esplendor, senhores!

03 abril 2011

dá-me música

Há 13 anos perdia o meu pai, que por sua vez perdeu a sua batalha contra o cancro. Foi duro, eu era só uma miúda. Ponderei se havia de escrever sobre ele neste blog, se não me estaria a expor demasiado, mas hoje estou assim-assim, muito por isto, muito por outras coisas, e apetece-me.

O meu pai era o pai mais cool e ao mesmo tempo mais estranho que uma miúda podia ter, era músico, e fazia disso vida, não trabalhava num banco e não chegava a casa as 19h. Não. Não se sentava à mesa aos jantares porque estava a trabalhar, a ideia dele de diversão comigo era fazer-me playbacks de músicas conhecidase pôr-me a cantar. Era levar-me para o estúdio e gravar a minha voz. Era pôr-me a tocar em casa. Nunca brincou comigo as bonecas, nunca foi meu paciente quando eu era médica. Não gostava de fazer puzzles. Para isso servia a minha mãe.

Mas eu adorava-o, e ele a mim, ele dizia que eu era a filha preferida, e não, não era filha única, mas ele dizia em comparação com os outros dois que eu era a mais perspicaz, a mais esperta, a mais desenrascada. Como ele, dizia sempre que nós éramos os mais parecidos. Ele lá viu isso em mim mesmo só tento convivido comigo até aos 11. Mas ele lá viu isso em mim.

Hoje vejo que acertou em muito, e errou em muita coisa, é normal. Ele achou que eu ia ser a mais bem sucedida, a que ia lutar mais pelos meus sonhos, e isso, até ver, tem sido o que tenho feito. Penso agora que talvez o tenha feito mais pelo que ele sempre me fez acreditar do que realmente a minha personalidade. Ele condicionou-me em muita coisa, e eu agradeço por isso.

Tento não ser saudosista, ultrapassei tudo muito bem, mesmo sendo a enfermeirinha de trazer por casa, a menina dos remédios, a que animava o pai com histórias de um futuro cheio de netos na casa do Algarve onde gostávamos de passar férias. Coisas que eram certezas para mim. Histórias que eram alentos para ele, mas que ele já sabia que não iam acontecer. E eu também. Mesmo assim dizia que ele não podia ir, então ele ainda tinha que fazer tanta coisa comigo. Mas não o fez. O cancro levou a melhor. E eu fiquei sozinha muito tempo.

Ainda hoje penso nele, e mesmo quando estou bem disposta penso nas coisas que lhe gostava de contar. Tenho uma enorme tristeza ter ficado tanto por dizer, tanto por contar. Tanta coisa da vida dele que eu, inevitavelmente, nunca irei saber. Isso realmente é das coisas que mais me custa. É o desconhecido da vida dele, é o nunca ter conselhos masculinos, o ter passado a adolescência e agora o início da minha vida adulta sem um pai. E o que eu precisava dele. E do colo dele.

Nunca mais me vou esquecer dessa sexta-feira, último dia de escola antes das férias da Pascoa, em que fiquei quase duas horas à espera da minha mãe na escola. E ela não aparecia. Nada dela. Não havia cá telemóveis como há hoje, em 1998, não era comum. A minha mãe tinha que partilhava com o meu pai quando estava internado, e eu lá saquei do papelinho e fui ligar de um quiosque. Já era hábito ela esquecer-se de mim. Não a condeno, mas acontecia com regularidade, achei que era mais um dia. Lá me sentei na beira da estrada, com um livro para ler, e ao fim de hora e meia, a senhora do quiosque lá me disse, "não lhe quer ligar?". Agradeci e assim o fiz. Pediu desculpa, que já ia a caminho. E vem buscar-me um vizinho. Leva-me para casa e para mim era galhofa, a filha era um ano mais nova e eu adorava ir a casa dos outros, era sempre divertido estar numa família normal.

Eu não sabia que todos já sabiam. Quando voltei a casa no final do dia, não queria acreditar. E não acreditei, a luz da casa de banho estava ligada e a porta aberta, estavam lá as botas dele preferidas. Ele só podia estar na casa de banho. Mas não. Não fui ao funeral. Não fui ao enterro. Nunca fui ao cemitério nem a missas do ou pelo 7 dia. No fundo eu já sabia que ia acontecer. Mas custa-me sempre o luto, sou péssima no luto. Mesmo quando sei que vai acontecer.

Pai, gostava de ter dito que és o único homem que eu quero que me dê música.

02 abril 2011

sorte

Ter sorte é uma cena do caraças. Não é qualquer um que tem sorte. Não é qualquer um que nasce com sorte. Sorte é aquela coisa que não se pode controlar. É nascer numa família carinhosa e atenciosa, numa família com dinheiro, numa família unida. Ter sorte é ter boa família, é não rondarem as doenças, é ter pais e avós saudáveis, é ter bons professores. Ter sorte é ser bem ensinado desde a infância, é deixarem-nos ser crianças, e darem-nos asas quando acham que já somos adultos. Ter boa educação é sorte. Ser bem formado é uma sorte. É uma sorte.

Não cair na rua esburacada é uma sorte. Nunca ter partido nada é uma sorte. Ter um cabelo bonito, um sorriso bonito é uma sorte. Ter conseguido aquele emprego foi uma sorte. Ter bons amigos e pessoas verdadeiras e carinhosas à nossa volta é uma sorte. Amar e ser amado é uma sorte.

No fundo tudo se resume a um pouco de sorte e azar na vida. O estar no sítio certo à hora certa. O conhecer aquela pessoa especial naquele momento. O ter a atitude certa ou não. E sorte é mesmo isso, são coisas que acontecem de forma aleatória, e que nos influenciam de forma definitiva.

Quanto a mim, desejo-me muita sorte.

01 abril 2011

sol = :)


Estarei por aqui. Está bem?

a evolução dos homo sapiens, ou não.

Há fenómenos do caraças. Há coisas que se perdem no tempo, porque supostamente há evolução, outras não, talvez porque continuam a ser praticadas por pessoas cuja evolução humana deixa muito a desejar.

Aqui há muitos milhares de anos, ainda nem tinha por cá passado o cabeludo a quem chamaram Jesus, aquele que foi fruto de sexo casual, e depois “ah e tal estou grávida, mas foi um anjo que me disse...”, outras águas, lá chegaremos, antes dele cá andar viviam neandertais que puxavam as mulheres pelos cabelos e usavam ossinhos no cabelo, isto a acreditar no que os desenhos animados sempre me mostraram. Nesses tempos, não se devia falar, no máximo mandavam uns gruninhos num agudo fininho. Não havia cá higiene e conseguirem fazer fogo foi uma proeza. Andavam por aqui, por ali e caçavam. Vamos ao cerne da questão. Caçavam. Mas fazia sentido, tinha fome e caçavam para comer. Necessidade básica, era comer ou ser comido. Faziam umas lanças em pedra, osso e outros materiais, e lá esperavam tempos até conseguir alguma coisa. Até lhes tenho respeito, assumo.

Isso foi há muito muito tempo, tempos em que não havia electricidade, casas, carros, internet, telemóveis e i-pads. Nos dias que correm ainda existem uma cambada de tipos que andam para aí de armas em punho, já se deixaram de lanças e pedrinhas, agora é com caçadeiras e produtos afins. Armados até aos dentes, com cães que, coitadinhos, não viram outras vidas, e que só querem agradar o dono a cada coelho que trazem. Gente estúpida. Gente ainda menos evoluída do que os neandertais. Apesar de todos os gadgets.

Nos dias que correm ainda há gente que acha que caça é coisa boa. Que é uma necessidade. Conheço alguns, infelizmente. Há ainda os que afirmam que é um desporto. Antes fossem mexer as barrigas flácidas a correr atrás de uma bola. Mas não, preferem vestir aquelas roupinhas com print camuflado e rumarem a florestas, matas e afins onde matam tudo o que vêem. Ele é coisas grandes(não sei o quê), coelhos a passarinhos que coitados não alimentavam nem os meus gatos. Mas há que trazer muita coisa. Mostrar lá em casa como se caçou muito, e encher o peito a mostrar isso mesmo. Orgulhosos dos feitos.

Podiam vestir os camuflados e irem para o paintball, levar boladas de tinta no peito, que doem para caraças. Sei o que digo. Mas não, é mais giro irem para o campo, em grupo, com cães que, mais vezes do que se pensa, ficam por lá, porque não prestam para o serviço. E lá andam com aquele ar serrano do vinho tinto entre amigos também parvos e anormais, divertidinhos a mandar uns tiros.

Já tenho tido o azar de me cruzar, mais do que gostaria, com pessoas que gostam desta actividade. Daqueles que defendem e batem no peito afirmando pérolas como:

“Os caçadores são os mais amigos da natureza!”
“Caçar é natural.”
e outras, mas a minha predilecta é sem dúvida “É a lei da natureza.”

É aí que salta o pior que há em mim! Epá vem-me cá lamber as bolas! Não existem, é da raiva, claro está, mas lei da natureza?! Mas que lei é essa onde se leva com chumbinhos no corpo? Onde cães perseguem coelhos, para depois comerem ração seca feita de sei lá o quê. Que lei é essa que faz esta gente caçar, tão apoiados na moral, nos costumes e na tradição, e depois os faz irem aviar-se de comida ao hipermercado.

Acordam os homens às 5h da manhã, para irem para caçadas, em prol da família e da natureza, quando os filhos só querem comer bigmac's, pizzas gordurentas e chocapic como petisco. As mulheres já só comem peito de frango e folhinhas de alface, poucas, porque leram numa revista que não engorda. Nestas famílias ninguém passa fome, a comidinha vem, portanto, carregada em sacos de plástico do hiper mais próximo. De preferência na quantidade necessária, em embalagens de esferovite e plástico, que são bem mais práticas para guardar os bens alimentares no frigorífico e no congelador. Comer já lavadinho, sem pelos, penas e de preferência cortado como deve de ser. Mas ainda há quem pense que faz parte de se ser macho ir à caça. É coisa antiga, já fazia o seu pai. É coisa de homem. E faz parte. É gente estúpida minha gente. É gente muito estúpida.

Pergunto, havia necessidade? Mas sei, claramente, que não.