Nunca me lembro de ter vivido assim, tão assustadoramente calma e tranquila, nunca me lembro realmente, vai daí olho para mim ultimamente como se não me conhecesse. E deve ser isso mesmo. Nunca na vida fui tão passiva, tão letárgica, tão prostrada. Nunca na vida vivi para viver o dia. Nunca.
O meu eu, aquele que eu ainda acredito ser o meu eu, é activo, vivo, alegre. Tenho sempre objectivos, metas a atingir, coisas para organizar, cenas para gerir, ou tinha, agora, de repente, não tenho vontade de pensar em nada, não quero pensar em coisas que vão acontecer daqui a um mês. Não tenho objectivos a longo prazo. Tudo me parece tão vago. Vou-me deixando viver, mas desta feita com uma tranquilidade e aceitação nunca antes vivida nem sentida por mim. Há quem diga que é a idade que te traz serenidade e aceitação, sinceramente acho que não. Acho mesmo que estou a viver um momento, uma fase. Chegou o meu momento de reformular as coisas, assentar ideias, ver o que me faz falta, quem me faz falta, a quem eu faço falta. Talvez tenha que gastar a pouca energia que tenho tido, infelizmente, naquilo que vale mesmo a pena.
Talvez tudo mude quando ficar a saber, finalmente, o que vai acontecer no meu trabalho. Talvez tudo mude quando me fizerem sentir no centro. Quando eu estiver nas listas de prioridade de alguém que eu pus na mesma lista.
Sinto-me a viver assim-assim, como suspensa, mas tranquila, demasiado até para aquilo que sempre fui, mas com fé e esperança que amanhã ou depois tudo mude novamente e que a próxima fase seja muito boa. Espero ser em breve o que era, ou melhor, pensar em mim, pensar nos outros e a ser pensada por quem me interessa. A ver vamos.
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