"Não acredito que seja possível percebermos se estamos perante a pessoa da nossa vida em meia dúzia de encontros. Nem em três ou quatro meses de namoro, por mais intensas que as coisas possam ser, por melhor que tudo possa correr. Podemos ter a sorte de encontrar alguém perfeito à primeira tentativa, e há muitos casos de pessoas que ainda estão com os primeiros namorados, e são felizes. Mas são as excepções. O normal é irmos conhecendo gente, identificando qualidades e defeitos, enquanto nós próprios vamos crescendo e percebendo o que nos faz bem, o que nos faz feliz, o que nos faz confusão, o que consideramos inaceitável, etc. Na verdade, com o tempo também nos tornamos mais tolerantes e menos exigentes numas coisas, e mais intolerantes e mais exigentes noutras. E é também isso que faz de nós mais adultos.
É perante os conflitos, as dificuldades, os obstáculos, os choques de personalidade que descobrimos, verdadeiramente, a outra pessoa. Os primeiros tempos são o estado de graça por que todos passamos, em que não falta vontade para nada, em que estamos sempre dispostos a tudo, em que não somos preguiçosos, em que pomos o outro à frente de tudo, quais adolescentes apaixonados. Depois vêm as rotinas, os desleixos, as alturas em que já não nos apetece ir jantar sempre a sítios diferentes, em que valorizamos uma tarde em casa a vegetar no sofá. É então que descobrimos que o outro é desarrumado, não sabe cozinhar, cheira mal dos pés, tem CDs do Tony Carreira, deixa as luzes de casa todas acesas, odeia fazer desporto, tira macacos do nariz. E é da capacidade de adaptação a tudo isto, da vontade do outro em aceitar os nossos defeitos, da humildade de cada um em mudar o que podemos mudar que nasce o amor, que se controem almas gémeas.E a palavra é esta: construir. Por isso, não é verdade que eu acredite em almas gémeas prontinhas a entregar no domicílio. Acredito, sim, que podemos encontrar alguém que pode bem vir a ser a nossa alma gémea.
Não acho é que a pessoa da nossa vida tenha de ser aquela com que estamos neste momento. É possível que seja uma pessoa com quem já estivémos e que, por algum motivo, deixámos fugir. Os americanos chamam-lhe "the one that getaway". E podemos ter deixado fugir essa pessoa porque não a soubemos valorizar, porque fomos atrás de emoções mais fortes, porque achámos que poderia haver mais e melhor mundo, mas, afinal, não havia. E depois olhamos para trás e pensamos que a pessoa com quem estávamos é que era perfeita para nós. Umas vezes ainda temos a possibilidade de correr atrás, mas noutras já não, porque o tempo matou o sentimento mais forte que nos unia àquela pessoa - o amor; e porque a cumplicidade também se diluiu no tempo, e a corda que nos ligava partiu-se de vez. Fica a lembrança, o carinho, o respeito e a certeza de que aquela era a pessoa certa, mas que iremos encontrar outra à nossa medida. E a verdade é que temos toda uma vida para a procurar. E ela vai aparecer. Aparece sempre. Vão por mim."
Olha que...gostei! Arrumadinho das ideias, pelo menos. Hum-m.
ResponderEliminarIsto lembra-me um outro termo "americanado" que utilizo e gosto. É daqueles sem tradução, palavras mágicas enfeitiçadas a permanecer no castelo da linguística materna.
ResponderEliminar"The one" ♥
Dá-me esperança. Gosto. :)
ResponderEliminarRui F.
diz ao "arrumadinho" que a expressão correcta é: the one that GOT away.
ResponderEliminarÉ um preciosismo, bem sei. Mas se é para falar de amor, que seja com precisão. ;)
Anónimo de nome Rui, fico muito feliz por isso. Relembra-te que não é a que got away, ainda hás-de viver muitas histórias. Hold on :)
ResponderEliminarIvo, obrigada pela correcção, ao Arrumadinho serve de pouco, e eu já aprendi mais qualquer coisinha. E é sempre bom ver, que tu ainda vais sabendo mais coisas que o Arrumadinho, jornalista há 15 anos, com livros e afins editados. Nice Ivo, nice. :)